segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

10-01-2010

Sábado a noite, deitei na cama, tarde, com muito sono, mas algo estranho não me deixou dormir.
Algo me dizia: "reze".
Pensei, "não custa nada". Juntei as mãos e rezei. Pedi proteção a todos e agradeci por tudo, como sempre.
Domingo de manhã.
Lá fora a chuva, pensei em ficar até mais tarde na cama.
Mas algo me dizia pra levantar e ir levar o ventilador que eu havia pego emprestado (sem a minha vó saber),
De volta para casa dela.
Domingo de manhã, aquela chuva caindo. Levantar e ir na chuva levar o ventilador? Não!
Sim.
Algo me tirou da cama, e me disse pra ir até lá.
Levantei, coloquei uma bermuda e fui.
Abri a porta e vi a água, que normalmente quando chove, fica parada ali. Mas tinha um pouco a mais.
Lembrei da pedra que minha vó "levanta" para a água ir embora.
Abri a porta da frente e levantei a pedra.
Mas ao contrário do que sempre acontecia, a água não foi. Pelo contrário: veio.
Começou a entrar em casa.
Corri, peguei meus tênis que sempre deixo no caminho. E a água, por ironia do destino, sentiu-se convidada a entrar:
Passou pela sala e foi em direção ao quarto.
Comecei a tirar do chão e colocar no sofá tudo que era possível.
Voltei pra cozinha correndo, resbalei, bati a cabeça, as costas, e o pé.
Tentei ligar pro meu pai, pra minha irmã, mas o telefone não funcionava.
Corri, e comecei a tirar as coisas do sofá, pois a água estava subindo rápidamente.
Tirei violão, videogame, as coisas fúteis que julguei mais importante. Televisão...
Nessa hora, eu desejei do fundo do meu coração que minha mãe estivesse ali, comigo.
Eu sei que ela não iria poder segurar a água que entrava com raiva pela fresta da porta,
Mas eu sabia que ela, ao menos, me acalmaria.
Acho que depois da morte dela, foi a única vez que entrei em pânico.
Olhei para os livros na estante, Douglas Adams me dizia: "NÃO ENTRE EM PÂNICO".
Foi o que eu fiz. Sentei no sofá, com a água nas pernas, e comecei a chorar.
Pensei em rezar, pedir a Deus para que parasse a chuva, pelo menos por hoje.
Rezei.
No quarto meu colchão estava boiando. Alguns CDS também. Entre revistas, cadernos e tudo que eu guardava da minha adolescencia.
Todos meus primeiros textos, primeiras gravações, em fitas K-7. Tudo.
Corri pra cozinha novamente, a geladeira havia caído na água. Peguei o forno, coloquei em cima do armário,
Ele cai em cima de mim, mas desviei. Entretanto o vidro da porta quebrou,
E eu, nervoso e de pés descalços me vi pisando em cacos de vidros.
Meus pés sangrando, comecei a olhar em volta o que ainda faltava colocar em cima do armário para salvar.
Computador, instrumentos, eletrônicos, algumas mudas de roupas já estavam lá.
Agora era a hora de sair. Abandonar a casa, e novamente rezar.
Abri a janela, e por sorte meu vô estava em casa.
Gritei para ele, e ele veio, com a água pelos joelhos também.
Lá fora estava pior do que aqui em casa.
Pulei a janela. Eu gordo, e sem desenvoltura alguma, me vi arranhando as costas, esticando as pernas,
E quase caindo de boca na água.
Os quartos e a sala, na casa da minha vó, são "mais altos", a água não havia chegado lá. Só na garagem-cozinha-sala.
Entrei com o vô e fomos na janela da frente admirar o rio que havia se formado em plena nossa rua.
E as pessoas, curiosas que passavam, tirando fotos, admirando a desgraça alheia.
Por sorte, assim como a água subiu, ela desceu.
E entrar em casa e ver o estrago?
Foi difícil. Horrível.
Eu estava todo machucado, e por sorte, nessas horas aparecem as pessoas que realmente te amam.
Meu tio, minhas tias, minha irmã, meu pai, todo mundo ajudou.
Meus primos...
E eu me sentindo um completo inútil. Meus pés machucados, meu joelho, com fome, molhado.
E por mais sorte ainda, moro perto de uma pizzaria-padaria, que SEMPRE está aberta.
Sexta-feira santa, Natal, e até Ano-Novo eles trabalharam!
Fui comprar comida pro pessoal, mas eu mal conseguia andar.
Aproveitei para dar uma olhada na minha rua.
Horrivel.
Fora o que as pessoas na rua me paravam pra contar o que fulano tinha perdido,
O que havia acontecido em tal bairro,
As casas que desmoronaram
AS pessoas que morreram...
E eu me senti ainda mais inútil.
Vi que não somos nada o que achamos que somos,
Que a natureza é muito maior do que o homem,
Que existem mensagens,
E as vezes não percebemos.
E deixamos o destino levar
Tudo aquilo que somos.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

os poetas não sabem:











o mais saudável
é amar menos

o mesmo sempre

é ruim
se
apaixonar,
denovo
e
denovo
e
sempre
mais
uma
vez
guardo
a
flor
no
bolso

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

monalisa


monalisa,
me avisa
do final.
feito um traço
mal bordado
em um sinal

faz de mim o teu quintal
alivia o temporal


monalisa,
me carrega
ao teu andar
nos teus passos
abrigados
ao luar

faz de mim o teu cantar
me recorda a assoviar

monalisa,
me abriga
em teu lençol
ao teu lado
comportado
ser um só

faz de mim o teu ninar
adormece a me lembrar

simplicidade

O que me encanta na vida
É o que há de menor
Gestos
Olhares
Cheiros
Cores.
Todo minimalismo complexo
Pegadas
Traços
Gostos
Almas.
Tudo que passa por nós
Modifica,
Completa
A chuva
O Sol
O dia cinza
Sentimentos externos retraídos
Cada vida que vive ao mesmo tempo que eu
Na sua mais perfeita sincronia
Quero estar atento a tudo
Quero absorver o mundo
E se algum dia me faltar a simplicidade
Creio não mais haver
Razão para existir.

neu


Não sei dizer
Ao certo
Quanto de mim há por aí
Partes de um todo
Tão incompleto
Partes,
E me leva dentro de ti
Me encontro onde não estou
Em palavras que não vivi
Como se tivessem sido escritas
Todas para mim
Ou por mim
Onde eu sei que existi
Em algum pedaço de memória
No desenho que colori
Haviam nuvens em um céu
Que também estavam aqui
Flutuando entre minhas mãos
Na virtude que escolhi
Sendo tantos que sou eu
Cabe a mim descobrir
Quanto d'eu existe nela?
Quanto dela existe n'eu?

vontade de voltar


Todas as vezes em que ponho o pé pra fora de casa
E me arrisco
Logo sinto vontade de voltar
Suo,
Tremo,
Medo de tudo.
Sempre que saio
Sinto que estou em algum lugar errado
Onde não deveria estar
E eu até entendo,
Mas não custo a compreender
Não que o mundo não tenha sido feito pra mim
Talvez eu que não tenha sido feito pro mundo
Sonho em livros a vontade de viajar
De voar
De conhecer o mundo, mas
Essa vontade de voltar sempre me prende ao mesmo lugar que parti...
Sempre rumo ao desconhecido interior.